O fito desta pesquisa é a compreensão da criação e recriação das identidades nacionais e regionais a partir da problematização dos estilos de jogo no futebol através da perspectiva da antropologia relacional. Para tal, observamos a trajetória de dois treinadores de equipes do Rio Grande do Sul e São Paulo, regiões que consideramos dotadas de significações acerca do impasse sobre o que é o “futebol brasileiro”. A representatividade do esporte e a sua relação com o local e o nacional é um tema de ambiguidades, visto que ora determinado clube pode aparentar propriedades de uma região (o “futebol-arte” “tipicamente” brasileiro, o “jogo bonito”; ou o “futebol-força” “tipicamente” gaúcho) e, em outro momento, se distanciar para linhas divergentes da primeira. A partir de depoimentos (entrevistas e análise do discurso jornalístico) de viventes desta malha futebolística, notamos o efeito destas falas na invenção improvisada da (s) cultura (s) e a consequente ascensão de estilos de jogo e performances corporais híbridas, que não correspondam mais ao domínio de uma dicotomia-síntese, como futebol-arte x futebol-força, Natureza x Cultura, Civilização x Barbárie, Centro x Periferia, Parte x Todo, Brasil x Rio Grande do Sul, entre outros; mas sim a um fenômeno relacional entre actantes humanos e não humanos no interior de uma malha dinâmica de sentidos e saberes, como os números estatísticos, crônicas, charges, reportagens, estádios, sons, condições geoclimáticas, entre outros elementos que constituem e sustentam os argumentos de agentes que se encontram em constante re-criação.
Palavras-chave: Futebol; Identidade; Paralaxe; Rio Grande do Sul; São Paulo.