A democracia corinthiana

O tema desta pesquisa está centrado nas experiências de autonomia desenvolvidas pelos atletas profissionais no contexto da modernização autoritária do futebol brasileiro (1964-1984). Enfocando as práticas de liberdade instauradas pelo Selecionado de 1970, por diversos coletivos de atletas e, sobretudo, pelo movimento da Democracia Corinthiana, o estudo aponta a existência de uma tradição de autonomia que percorre, como uma corrente subterrânea, a história do nosso futebol, e procura mostrar como a experiência corinthiana a retoma, elabora e aprofunda no sentido da criação do autogoverno, tanto individual quanto coletivo, dos jogadores. A proposta teórico-metodológica que orienta a elaboração deste trabalho adota como ponto de partida a análise das práticas de liberdade na esfera do futebol, articulando esta análise com a das lutas desenvolvidas no âmbito mais abrangente da sociedade brasileira. O percurso consiste justamente em entrelaçar as duas perspectivas, revelando-lhes a profunda inter-relação. Trata-se, portanto, da articulação de dois eixos, a saber: de um lado, o da análise interna ao campo de forças do futebol brasileiro, resgatando as resistências, as rebeldias e as práticas que tornaram possível operar uma inversão nas relações de poder; e, de outro lado, o de uma história aberta do futebol, capaz de apontar as conexões entre a experiência democrática no Corinthians e os movimentos sociais, políticos e culturais em curso no quadro da redemocratização da sociedade. A Democracia Corinthiana representa a brecha antropológica no universo do futebol brasileiro, criando novas significações imaginárias sociais, descortinando outras possibilidades do ser atleta, ampliando os sentidos do jogar bola e tecendo as jogadas indefinidas do trabalho de reinventar a liberdade.

The theme of our research is centered in the experience of the autonomy developed by profissional athletes in the context of the authoritarian modernization of Brazilian football (1964-1984). Focusing on the practices of liberty established by the team of 1970, by several athletes, and, above all, by the movement called “Corinthian Democracy”, this study points to the existence of an underlying tradition of autonomy that runs through the history of our football. It strives to show how the Corinthians experience recalls it, elaborates on it and deepens it in the sense of a creation of self-government, both individual and collective, by the footballers. The theoretical-methodological proposal that guides the elaboration of this work adopts as a starting point the analysis of the practices of liberty in the context of football, interconnecting this with the struggle, developed within the broader framework of Brazilian society. The path consists of interconnecting both perspectives, highlighting the profound relation between them. It is therefore a question of expanding on two axes: on one hand, the internal analysis of fields of power of Brazilian football, rescuing the resistances, rebelliousness and the practices that made it possible to operate an inversion in the relationship of power. On the other hand, the open story of Brazilian football, capable of pointing the connections between the democratic experience at Corinthians and the current social, political and cultural movements which took place at the redemocratization of our society. Corinthians Democracy represents an anthropological breach in the world of Brazilian football, creating an imaginary, new social significance, unveiling other possibilities of being an athlete, extending the meaning of playing soccer, and weaving indefinite plays of a work that reinvents freedom.

Esta tese não se encontra disponível em arquivo digital.