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O São Paulo não pode ter medo de usar Cotia

Desde a entrada de Fernando Diniz no cargo de técnico do São Paulo, ele conquistou 14 pontos em 21 disputados, uma marca boa para quem almeja se manter no G4 do Campeonato Brasileiro, apesar de não ter apresentado um futebol que passa confiança nos resultados (o que já era esperado, conforme falamos no último texto). Entretanto, nesses sete jogos, podemos destacar a presença de Igor Gomes no time, entrando em todos os jogos na era Diniz e tendo seu primeiro jogo como titular neste fim de semana contra o Atlético Mineiro com uma grande exibição, com um gol e uma assistência. Todos os jogos em que ele teve oportunidade, sua presença mudou a cara do time desde a era Cuca. Então, por que ele – e todos os outros jovens destaques do São Paulo – só teve a chance agora no fim de outubro?

Toró, um dos destaques da base do São Paulo, em ação no clássico contra o Santos, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro de 2019. Foto: Mauro Horita/ALLSPORTS.

O clube tem um gasto anual com Cotia que ultrapassa os 35 milhões por ano, mas isso não é um problema já que de 2012 pra cá o clube já arrecadou mais de 400 milhões com vendas dos jovens do CT. Porém, se o clube revela tantos talentos para o futebol mundial por que há tanta resistência em utilizar os meninos no time? Igor Gomes e Toró estão pedindo passagem no time há meses e precisam se sobressair muito para conseguir a vaga, o que não acontece com outros jogadores no clube, como Everton e Vitor Bueno.

A torcida do São Paulo é díficil de conquistar e não apoia os jovens da base, como outros clubes brasileiros. Por exemplo, o Anthony, que é um jovem que conquistou seu espaço no time, vem sendo duramente criticado pela torcida e isso gera até uma timidez nas ações do ponta, que dificilmente tenta alguma jogada individual, ao contrário do que vimos na Copa São Paulo deste ano.

Essa ação da torcida muda completamente o futebol dos jovens e, com isso, perdemos muitos talentos que poderiam ser elementos fundamentais nas temporadas do clube ou até valer milhões para seus cofres. Entretanto, essa dificuldade em ser colocado no time aliada à dificuldade de cair nas graças da torcida tornam muitos jogadores incapazes de alcançar o potencial gerado. Nesses últimos anos, podemos pensar em nomes como Helinho, Brenner, Lucas Fernandes e Lucão para usar de exemplos.

O São Paulo não é um time que está mal financeiramente, mas muitos gastos do clube poderiam ser evitados se a diretoria confiasse no futebol de Cotia. O que parece, contudo, é que mesmo com os resultados absurdos dos times da base, a diretoria e a torcida não gostam de colocar esses meninos em campo. São feitas contratações anualmente claramente para dificultar ainda mais essa entrada. Parece que o clube prefere queimar dinheiro em um jogador que não vai resolver problemas no clube a queimar um jovem colocando-o para jogar constantemente.

Mais um ano está se encerrando e mais uma vez, provavelmente, conseguiremos a vaga na Libertadores. Isso gera uma expectativa muito alta para a competição e diversos profissionais já foram queimados com ela. Pensando nisso, temos que aceitar o risco da situação e buscar o melhor time possível para jogar a competição. A era do medo no São Paulo tem que acabar, chegou a hora de arriscar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Vitor Freire

Mestre em Educação Física na FEF-UNICAMP, amante de Esportes, são Paulino desde sempre.@vitordfreire@camisa012

Como citar

FREIRE, Vitor. O São Paulo não pode ter medo de usar Cotia. Ludopédio, São Paulo, v. 124, n. 31, 2019.
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