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MARACANÃ, nascimento vida e morte em sete atos

Marcos Alvito 29 de julho de 2015

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1968. Sete anos de idade. Sentado na dura arquibancada de cimento do Maracanã ao lado do meu pai. Nós e quase cem mil torcedores, público normal, mas não excepcional, para um clássico no Maracanã. No gramado, o meu Flamengo era estraçalhado por um time do Botafogo que tinha artistas como Gérson, Jairzinho e Paulo César. Sem falar em Afonsinho, o craque cabeludo que depois iria se revoltar contra a estrutura escravista do futebol brasileiro. Mas naquele dia, o menino só tinha olhos para o camisa sete do time adversário. Zequinha era o ponta-direita reserva do Botafogo. Mesmo assim, o mulato passeava pela defesa do Flamengo com a elegância de um mestre-sala, desviando dos defensores sem perder o ritmo das passadas. Depois de conseguir empatar a duras penas, o Flamengo toma mais um, dois, três. Diante do placar humilhante de quatro a um, meu pai me toma pela mão e decide ir embora. Aquele ano foi marcado por um mar de estudantes indo à rua contra a Ditadura Militar, que acabaria por mostrar sua face mais dura com o tenebroso AI-5, que fecha o congresso, instaura a censura sobre a imprensa e as artes e suspende direitos civis básicos como o habeas corpus. Meu doce protesto junto a meu pai não era político, mas tinha fundamento: não achava certo abandonar meu time em hora tão difícil. Naquele momento, fiz para mim duas promessas, uma das quais não conseguiria cumprir e outra que respeito até hoje. Prometi que jamais iria embora de um jogo do Flamengo antes do apito final que, como a morte, marca o fim definitivo. A segunda promessa foi um pouco contraditória: ao mesmo tempo encantado e assombrado com o ponta adversário, decidi que seria ponta-direita.

1944. Não se pense que meu pai era um torcedor qualquer. Ele era torcedor do Flamengo muito antes da construção do Maracanã. Lembrava-se bem da época em que os clubes disputavam os jogos em seus próprios estádios que, tirando São Januário, estádio do Vasco da Gama, eram bastante acanhados, quase domésticos. Perdi a conta do número de vezes em que meu pai me contou a conquista do tricampeonato de 1942-1943-1944, uma vitória nos últimos minutos em plena Gávea. Papai contava com entusiasmo como o argentino Valido, jogando com febre, apoiou-se sobre um zagueiro vascaíno para marcar de cabeça o gol da vitória. Ele falava como se tivesse visto o lance a dois metros de distância, o que à época não seria impossível. O Flamengo tinha um ótimo time, com duas estrelas indiscutíveis. Na defesa o incomparável Domingos da Guia, que achava feio para um beque dar pontapé e chutão pra frente, preferindo tomar a bola educadamente e sair driblando os atacantes adversários. E por fim, Zizinho no meio de campo, sem dúvida o maior jogador brasileiro antes de Pelé e Garrincha. Mas o curioso é que o grande ídolo de meu pai era Vevé, também um ponta, só que pela esquerda. Vevé, na memória mitológica de meu pai, desmontava a defesa com dribles curtos, tinha um chute poderoso e era especialista em completar para o gol usando o “sem-pulo”, isto é, arrematando uma bola vinda pelo alto antes dela cair no chão. Vevé, com seu bigodinho fino combinando bem com um futebol zombeteiro, só jogou até 1948, dois anos antes da construção do Maracanã. Ao contrário, seu companheiro de equipe Zizinho, seria marcado para sempre pela tragédia de 1950.

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A planta do Maracanã – quadro exposto no Museu do Maracanã. Foto: Sérgio Settani Giglio.
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Onde tudo começou – quadro exposto no Museu do Maracanã. Foto: Sérgio Settani Giglio.

1950 (1o. tempo). A Copa de 1950 bem que merecia o título de mais bagunçada da História. Com os países europeus ainda se recuperando da II Guerra Mundial, apenas o Brasil apresentou candidatura para sediar a Copa. Toma-se a decisão de construir um estádio para a final e os jogos mais importantes na zona norte do Rio de Janeiro. A realização da Copa e a construção de um estádio representavam o progresso e a inserção do Brasil no mundo ocidental, uma demonstração da nossa capacidade. Ma non troppo. A obra foi a toque de caixa, mas o estádio não foi terminado a tempo. De nada adiantou chamar os soldados do Exército para ajudar. Até mesmo no dia final ainda havia tapumes e material de construção. O estádio dava a impressão, segundo o jornalista inglês Brian Glanville, de um imenso canteiro de obras. Não era exagero. O atacante brasileiro Ademir diz que ele e outros jogadores ficaram receosos quando do primeiro jogo, a partida contra o México. Não por causa do adversário, que foi batido facilmente, mas por conta da existência de andaimes no estádio, dando a impressão de uma obra em andamento com risco de desabar.

O estádio a que ele se referia e que todos nós conhecemos por Maracanã, à época era chamado de Estádio Municipal Mendes de Morais. Fora batizado com o nome do prefeito que ordenara sua construção lutando contra a oposição ferrenha do jornalista Carlos Lacerda. Depois da derrota para o Uruguai ele nunca mais foi chamado por esse nome. Afinal, fora o prefeito que, tentando aproveitar ao máximo os dividendos políticos da sua empreitada, diante de 200 mil pessoas dirigiu-se aos jogadores brasileiros antes da final com palavras incrivelmente arrogantes e desrespeitosas para com os uruguaios dizendo que os jogadores brasileiros já eram campeões.

Quando o jogo e o sonho de ser campeão mundial terminam em tragédia, a multidão não irá perdoar o prefeito. Depois de passado o silêncio, a torcida brasileira aplaudiu à seleção uruguaia. Ninguém saía do estádio, as pessoas pareciam paralisadas pelo choque. Mas começam a se manifestar: primeiro tocam fogo nos jornais, nesses mesmos jornais que já estampavam manchetes declarando o Brasil campeão do mundo. Arrancam furiosamente o busto do prefeito e o lançam no rio Maracanã, que dá nome ao bairro. A partir daí o gigante de concreto estava rebatizado de Maracanã, que em língua tupi significa “semelhante a um chocalho”. Na intimidade, sempre foi chamado por nós torcedores, carinhosamente, de Maraca. Pois nessa forma irônica que nós cariocas temos de demonstrar carinho, todo diminutivo na verdade é um elogio.

1950 (2o. tempo). Mas eu não queria lembrar dessa história tão triste, que todo brasileiro sabe de cor. Vou contar a história da primeira grande festa acontecida no Maraca e que meu pai lembrava com muita alegria. Aconteceu três dias antes da tragédia. No quadrangular final, o Brasil goleia a Suécia por 7×1 e depois enfrenta a perigosa seleção da Espanha. O que ocorreu naquele dia 13 de julho de 1950 foi mágico. Na renomada Gazzetta Dello Sport, de Milão, Giordano Fattori dizia ter havido “ciência, arte, balé e até jogadas de circo”. Entusiasmado, comparava Zizinho a Leonardo da Vinci: “criando obras-primas com os pés na imensa tela do gramado do Maracanã”.

Em meia hora de jogo, a Fúria, já fora esmagada por três gols brasileiros: Ademir, Jair e Chico. A máquina de fazer gols da seleção brasileira não parou por aí. Começa o segundo tempo e já aos 11 minutos o Brasil faz 4×0 com Chico, depois de “preparação infernal de Ademir” segundo um dos locutores da Rádio Nacional. Agora a multidão não se contém mais, começa a entoar olé, olé, como se a Espanha tivesse virado um animal a ser abatido. Foi aí que um grupo de torcedores começou a cantar uma marchinha de carnaval lançada em 1938 e que já fazia parte do cancioneiro popular, cujo refrão dizia:


Eu fui às touradas em Madri
(Parará tchim bum bum bum

Parará tchim bum bum bum)

A festa prosseguiu com Ademir fazendo 5×0 apenas dois minutos depois do gol de Chico. E começam os lenços brancos com a torcida inteira cantando “Está chegando a hora” para os espanhóis, o que comove até mesmo os locutores da Rádio Nacional: “espetáculo emocionantíssimo dos lenços brancos: mais de 150 mil pessoas com lenços brancos em punho acenando para os espanhóis”.

Aos vinte e cinco minutos do 2o. tempo, Zizinho, sempre ele, marca o sexto gol brasileiro, coroando uma grande atuação. Poucos minutos depois a Espanha faz seu gol de honra, Brasil 6×1. Faltando um minuto para terminar, já era carnaval para a torcida: espocavam fogos de artifício, soltavam-se balões, acenavam-se freneticamente os famosos lenços brancos e, por fim, voltavam todos a cantar “Touradas em Madri”.

Meu pai adorava contar a história da vitória sobre a Espanha. Contava também a história da tragédia de 16 de julho, que ele também vivenciou no Maracanã. Não dava detalhes do jogo, não comentava atuações individuais, falava somente de uma coisa: do silêncio ensurdecedor que tomou conta da torcida brasileira. Para a maioria dos especialistas e dos sábios, a vitória sobre a Espanha levou a uma onda de otimismo ufanista incontrolável que selou nossa derrota diante do Uruguai. Permita-se a este modesto escriba discordar. A vida é vivida aqui e agora. Naquele momento, mas apenas naquele momento, para a multidão enlouquecida de alegria, o Brasil era o campeão do mundo, do planeta, de todas as galáxias. Ela cantou, se alegrou, dançou e pulou embriagada por esse sentimento. E eu também me alegro em saber que houve, antes do silêncio da derrota … a canção.

Seja como for, voltemos à final. Depois dos jornais e das suas previsões virarem cinza, os torcedores brasileiros de todas as cores saem do estádio “como um batalhão de mortos vivos”. Mas ao descer a rampa a multidão desperta e arranca furiosa o busto do prefeito Mendes de Morais. O prefeito foi simbolicamente destituído e arremessado no rio que doravante daria nome ao estádio. Hoje em dia o que existe no local é a estátua do capitão de 1958, Bellini.

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A festa do povo – quadro exposto no Museu do Maracanã. Foto: Sérgio Settani Giglio.

1972. Onze anos. Em plena Ditadura Militar, a economia brasileira crescia a todo vapor: naquele ano a variação do PIB foi de mais de 10% e no ano seguinte bateria o recorde jamais alcançado de 14%. Tudo isso graças a farto financiamento externo, arrocho salarial impiedoso, manipulação dos índices inflacionários e uma brutal concentração de renda. Eu ainda não sabia de nada daquilo. Naquele dia, talvez nem quisesse saber. Afinal, papai ia levar toda a família ao Maracanã para a final da Taça Independência. Fora um torneio bolado pelos generais para faturarem ainda mais em cima da conquista de 1970, aproveitando a data patriótica dos 150 anos da nossa Independência. A final dos sonhos (deles): o Brasil do ditador Emílio Garrastazu Médici contra Portugal do ditador Marcelo Caetano, sucessor de Salazar. O jogo foi parelho, disputado e até os 40 minutos do segundo tempo, sem gols. Aí papai resolve sair cinco minutos mais cedo pra evitar problemas, afinal estavamos com mamãe e minha irmã menor. Nem preciso dizer que fui contra. Quando chegamos ao carro, a punição dos deuses: os pneus estavam furados. Depois vi pela televisão Jairzinho mergulhar de peixinho na pequena área para dar o título ao Brasil.

1980. Dezenove anos. Eu era estudante de História. No ano anterior, havia sido decretada a Anistia. No poder, todavia, ainda havia um general-presidente. A economia estava parada, chegara a hora de pagar a dívida externa que fora multiplicada durante o regime militar. Nesse ano foi fundado o Partido dos Trabalhadores, esperança de uma nova forma de fazer política. No curso de História, quem gostava de futebol ainda era considerado alienado ou ingênuo. Eu não me importava com isso. Em frente ao Bellini. Era assim que eu e meus amigos marcávamos nossas idas ao Maracanã. O bom e velho capitão, erguendo a taça da nossa primeira vitória mundial, era um símbolo perfeito da esperança do torcedor antes da partida. Naquele dia, meu Flamengo podia ganhar seu primeiro título nacional, diante de um adversário dificílimo, o Atlético Mineiro de Reinaldo, Toninho Cerezo e Éder. Naquele tempo os ingressos eram baratos, cerca de metade de um bilhete de cinema. Normalmente eram comprados no dia, o que nos levava a encarar filas que duravam horas. Jogos especiais como decisões eram vendidos alguns dias antes. O horário tradicional dos jogos era cinco da tarde, quando ainda havia sol, terminando o jogo no início da noite. Já com os ingressos, chegamos ao Bellini quatro horas antes do jogo começar. Era tarde. Quando entramos, quase não havia lugar para “sentar”. Coloco as aspas porque, com um público de mais de cento e cinquenta mil pessoas, a gente se espremia como dava. O pior não foi isso e sim que ficamos na fronteira com a torcida do Atlético. Passamos boa parte do tempo nos desviando dos fogos de artifício que a torcida deles soltava sobre a nossa. E vice-versa, é claro. Ir ao Maraca comportava risco o tempo todo, antes, durante e depois. A gente nem pensava nisso.

O jogo foi difícil. O empate era deles e quando estávamos ganhando de dois a um, o maravilhoso Reinaldo, ia ser substituído por contusão. A nossa torcida não perdoou e gritou cruelmente: “Bichado, bichado”. Craque é craque. Antes de sair de campo, Reinaldo, literalmente com uma perna só, empatou em dois a dois. Nosso time era um time dos sonhos, bastaria citar Zico, o maior jogador que eu vi nos gramados. Mas havia também Júnior, Andrade, Adílio um ponta-esquerda tão endiabrado quanto Vevé, Julio Cesar. A ironia é que o nosso gol redentor, que nos deu a vitória e o título, foi de um jogador limitado, mas esforçado, eficiente e vibrante: o centroavante Nunes. O resto, foi uma festa indescritível, dentro e fora do Maracanã.

2010. Cinquenta anos. Desfrutando de enorme popularidade, o presidente Lula consegue transmitir o poder a Dilma Roussef. Três anos antes, tinha havido o glorioso anúncio de que o Brasil sediaria a Copa de 2014, fato que foi apresentado, mais uma vez, como uma comprovação de que finalmente o Brasil alcançara o Primeiro Mundo. Ali eu estava novamente, em frente ao Bellini. Não era dia de jogo. E mesmo que fosse, o bom e velho Maraca estava fechado. Seria “reconstruído” para a Copa de 2014. Juntamente com o colega Chris Gaffney e alguns alunos do curso de História, onde eu agora era professor, estavamos ali para fundar a Associação Nacional dos Torcedores. O nosso receio, que se mostrou correto, era de que a Copa do Mundo fosse o Cavalo de Tróia de um processo de elitização do futebol brasileiro. Numa aliança espúria entre políticos e as empreiteiras que financiam as suas campanhas, 2014 seria um grande negócio. Menos para nós, que pagaríamos a conta, para ver nossos estádios transformados em arenas higienizadas e o povo ser expulso das arquibancadas. Esse processo de elitização, na verdade, começara cinco anos antes, em 2005, com a extinção da Geral. Se a tribuna era para os ricos e a arquibancada para a classe média mais ou menos remediada, a geral era o espaço popular por excelência, marcado por uma cultura própria. Dali quase não se via o jogo, é verdade, mas havia muita vibração e manifestações verdadeiramente folclóricas. Ela foi assassinada a sangue-frio, praticamente sem protestos, sob o aplauso dos que louvavam a necessária “modernização do futebol brasileiro”. Em 2010 não foi assim, já tínhamos começado a entender o sentido daquele processo de destruição da cultura torcedora. Nós lutamos muito. Fizemos manifestações, demos dezenas de entrevistas, escrevemos artigos, participamos de mesas-redondas. Mas a verdade inescapável é que não conseguimos uma mobilização maciça. O Maracanã, sabíamos bem, jamais seria o mesmo.

O Maraca onde bateram minha carteira em 1983 (e o Flamengo perdeu a final para o Fluminense), onde quase fui imprensado pela multidão em um jogo de eliminatória contra o Paraguai em 1977, onde caiu um pedaço de concreto no meu rosto em 1984, onde vi o meu Flamengo ser campeão brasileiro seis vezes e campeão carioca incontáveis vezes, onde comprei ingresso falso na mão de cambista, onde fugi da polícia e seus cavalos (daqueles que relincham), onde quase despenquei da arquibancada em 1992, onde quando criança ia ver o Papai Noel chegar de helicóptero, onde além de Zico vi Eusébio, Doval, Rivelino, Maradona, Bebeto, Romário, Renato Gaúcho e tantos outros, onde meu filho aprendeu a falar palavrão e a ser fiel ao seu, ao nosso time, onde jamais vou poder levar minha filha, que nasceu depois, aquele Maraca, nunca mais.

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Teste de iluminação do Maracanã antes da partida da reinauguração do estádio entre Brasil e Inglaterra realizada em 2013. Foto: Érica Ramalho – Governo do Rio de Janeiro.

2013. Cinquenta e dois anos. Reinauguração do Maracanã. Depois de quase três anos, ao custo de mais de um bilhão de reais, o estádio ficava finalmente pronto. No mesmo mês de junho o Brasil foi sacudido por uma onda de manifestações que levou milhões às ruas. Em meio a um contexto de crise econômica, desconfiança na política, sentimento de injustiça e falta de esperança no futuro, os jovens se mobilizaram para protestar e a Copa do Mundo e seus gastos milionários viraram um símbolo perfeito a ser atacado. Eu também fui às ruas, mas não podia deixar de ir ao novo Maracanã. Pelo menos o Bellini ainda estava lá. Do lado de fora, ele parecia o mesmo: a fachada simples e adorada, a rampa de concreto velha de guerra, tudo isso estava lá. Quando eu finalmente me sentei no meu assento numerado, foi que eu senti a vertigem. Durante cinco minutos permaneci em estado de choque. Licia percebeu e me perguntou, com carinho, o que estava havendo. Eu não conseguia saber onde estava. Não consegui reconhecer o estádio. Parecia uma realidade fora do lugar. Depois, conversando com amigos, todos me diziam a mesma coisa: já não conseguiam se localizar, não podiam reconhecer o lugar que haviam frequentado durante décadas.

Eu que passei um ano na Inglaterra visitando dezenas de estádios, digo sem medo de errar que esse estádio, que querem que a gente chame de Maracanã, é igual a muitos outros. Não tem mana, não tem magia, não tem química. Nem é estádio mais. É um estúdio feito para transmitir um show chamado jogo de futebol. Naquele dia em que fui ver Brasil e Inglaterra, embora tenha comprado um ingresso bastante caro, percebi que as placas de publicidade impediam a visão da linha do gol das 15 primeiras fileiras. Apenas um detalhe, é claro. Outro detalhe insignificante: as dimensões do campo foram diminuídas em um quinto, logicamente afetando o estilo de jogo a ser praticado. Com todo o respeito, imaginem fazer encolher o Coliseu. Mas o novo estádio tem agora centenas de bares, lojas, dois telões para passar propaganda, um poderoso sistema de som para tocar propaganda, bem como camarotes luxuosos e centenas de funcionários que não param de dar boa tarde e perguntar se você precisa de alguma coisa. Só do meu Maraca de volta, tenho vontade de dizer.

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Na reinauguração do Maracanã Lucas (7), do Brasil, prepara o chute sob marcação de Lampard (8), da Inglaterra. Foto: Glauber Queiroz – Portal da Copa.

Vou contar a lembrança mais bonita que tenho de tantas tardes e noites da minha vida passadas no Maracanã. Quanto cheguei à idade adulta, à medida em que o tempo ia passando, os amigos iam assumindo compromissos que os impediam de frequentar o estádio com a mesma regularidade. Sendo assim, muitas vezes tive que ir sozinho ao Maracanã ver o meu Flamengo. Mas o abraço após o gol era uma tradição obrigatória e indispensável. Quando eu ia sem ninguém, procurava ir fazendo um ambiente com o pessoal da arquibancada perto de mim. Assim o abraço estava garantido na hora do gol. Não falhou nunca. Assim como nunca falhei na minha promessa de ver todos os jogos até o fim, independentemente do resultado. Infelizmente, a falta de habilidade não me permitiu cumprir a promessa e o sonho de ser um ponta-direita. O princípio de realidade me obrigou a jogar de beque-central.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Marcos Alvito

Professor universitário alforriado. Escritor aprendiz. Observador de pássaros principiante. Apaixonado por literatura e futebol. Tenho livros sobre Grécia antiga, favela, cidadania, samba e até sobre futebol: A Rainha de chuteiras: um ano de futebol na Inglaterra. O meu café é sem açúcar, por favor.

Como citar

ALVITO, Marcos. MARACANÃ, nascimento vida e morte em sete atos. Ludopédio, São Paulo, v. 73, n. 11, 2015.
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