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Coligay: o desbunde guei que ganhou os estádios brasileiros

Maurício Rodrigues Pinto 25 de maio de 2018

“Em acintoso desafio ao machismo gaúcho, foi fundada, no mês passado, em Porto Alegre, uma insólita torcida futebolística, a Coligay, de cujos membros se exige apenas não levar muito a sério a masculinidade” (“Gente”, Veja, 01/06/1977).

 

No dia 17 de maio de 1992, a homossexualidade foi retirada da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), representando um importante marco na luta contra a homofobia e na despatologização da homossexualidade. Por essa razão, no dia 17 de maio é celebrado o Dia Internacional Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia.

Aproveitando a importância da data, neste texto vou tratar da Coligay, grupo de torcedores do Grêmio Foot Ball Porto Alegrense, que marcou história como a primeira e única torcida gay do país a marcar presença nas arquibancadas. Em meio a um contexto de ditadura militar e forte autoritarismo, a Coligay desafiou o machismo e a homofobia característicos do campo futebolístico, levando o desbunde para o futebol brasileiro.

A estreia da torcida ocorreu em 10 de abril de 1977. Na ocasião, o time do Grêmio ia à cidade de Santa Cruz do Sul, no interior do Rio Grande do Sul, enfrentar o time local, em partida válida pela fase classificatória do Campeonato Gaúcho. O maior objetivo do time era impedir que o seu arquirrival, o Sport Club Internacional – à época uma das grandes potências futebolísticas do país, liderado pelo meio-campista Paulo Roberto Falcão –, conquistasse o inédito octacampeonato gaúcho, consolidando ainda mais a sua hegemonia dentro do estado do Rio Grande do Sul.

A existência da Coligay coincide com o período mais vitorioso da história do Grêmio, entre os anos de 1977 e 1983, marcado pelo fim da hegemonia estadual do Internacional, a conclusão das obras do estádio próprio, o Estádio Olímpico (atualmente a casa do Grêmio é a Arena Grêmio), culminando com as conquistas da Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes, em 1983.

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Coligay. Foto: LIbretos/Divulgação.

A torcida nasceu por iniciativa de Volmar Santos, empresário e dono da boate gay Coliseu, situada em Porto Alegre (RS). Na Coliseu, dentre outras atrações, destacavam-se as apresentações e performances artísticas protagonizadas por travestis e transformistas, recebendo não apenas o público gay, mas também pessoas “simpatizantes” e que apreciavam a vida boêmia de Porto Alegre. Volmar conta o que o motivou a criar a torcida e a inspiração para a escolha do nome “Coligay”:

Apesar de tanto trabalho à frente da Coliseu, eu sempre tirava um tempinho para ir ver os jogos do meu clube do coração. […] Um dia, em uma das partidas, comecei a notar que as torcidas estavam muito desanimadas, no meu modo de ver, e não apoiavam o time como deviam. […] Fiquei com uma ideia na cabeça, de fundar uma torcida mais animada e totalmente diferente das outras. Um dia, após o término do horário de funcionamento da boate, reuni vários gays frequentadores da Coliseu e lancei a ideia, que foi muito bem aceita para todos. Aí veio o nome de escolha da torcida. Pensei em ColiGrêmio, mas não gostei. Foi então que surgiu a proposta de colocar parte do nome da boate com o público que a frequentava, que era gay. Então resolvemos que a nova torcida seria Coli, de Coliseu, e gay, do público que a frequentava. Ficou, então, Coligay, o que foi aceito por todos (GERCHMANN, 2014, p. 36).

O vínculo da torcida com uma casa de espetáculos frequentada por um público predominantemente gay é um indicativo que o surgimento da Coligay fez parte de um contexto histórico mais amplo, marcado pelo maior questionamento da heteronormatividade, pela maior fluidez das performances de gênero e pela afirmação de um movimento homossexual brasileiro, que foi acontecendo no decorrer da década de 1970. Esse contexto se caracteriza pela conquista de espaços de visibilidade pública por esses sujeitos e pela constituição de um cenário cultural e artístico LGBT, principalmente no eixo Rio-São Paulo, mas também alcançando outros estados brasileiros, conforme foi destacado em uma reportagem especial feita pela Revista Veja, em 1977: “E em Porto Alegre, afinal, a singular expansão de estabelecimentos do setor desaguou, recentemente, na criação da Coligay – a torcida declaradamente homossexual do Grêmio Porto-Alegrense, com 150 adeptos” (Veja, 24/08/1977).

Um dos principais expoentes desse contexto artístico e cultural é o grupo carioca Dzi Croquettes (1972-1976)[1], que alcançou enorme popularidade tanto no Brasil, como em turnês pelo exterior, com as suas coreografias e apresentações performáticas, que incluíam referências ao travestismo e à androginia. Dessa forma, o grupo transgredia o estereótipo “bicha” e complexificava as próprias noções de masculinidade, algo absolutamente inovador para a época:

Os Dzi Croquettes colocaram nos palcos brasileiros uma ambiguidade virulenta inédita entre nós – influenciado pelo espírito dos gender fuckers americanos. Em seus espetáculos, homens de bigode e barba apresentavam-se com vestes femininas e cílios postiços, usando meias de futebol com sapatos de salto alto e sutiãs em peitos peludos. Assim, nem homens nem mulheres (ou exageradamente homens e mulheres), eles dançavam em cena e contavam piadas cheias de humor ambíguo, tentando furar o cerco repressivo desse período ditatorial em que a censura e a polícia mobilizavam-se ao menor movimento que destoasse dos parâmetros permitidos. Os Dzi Croquettes tiveram sucesso fulminante entre a juventude mais insatisfeita da época, constituindo, no palco e fora dele, um importantíssimo núcleo de questionamento da moral sexual… (…) Graças à sua radicalidade (‘viver perigosamente até o fim’), a intervenção dos Dzi Croquettes iniciou no Brasil um importante debate de política sexual, ao colocar em xeque os papéis sexuais instaurados e introduzir a ambiguidade-bicha em contraposição à bicha-normalidade…” (TREVISAN, 2001, p.288)

A radicalidade, descrita por João Silvério Trevisan, também uma figura de destaque no movimento homossexual brasileiro[2], e a transgressão de normas de gênero fazem parte de uma atitude política que ficou conhecida como “desbunde”, que se constituiu em mais uma forma de resistência – que ficou fortemente associada ao movimento guei[3] brasileiro – frente ao autoritarismo da ditadura militar instalada no Brasil:

Ainda que a contragosto, a cruel ditadura brasileira instaurada a partir de 1964 imprimia um impulso peculiar em certas áreas da vida nacional, nos anos 70. A urgência de uma modernização em ambiente avesso à prática política democrática talvez tenha favorecido, entre os jovens, o surgimento de movimentos de liberalização nem sempre alinhados com orientações ideológicas precisas. Daí porque uma das palavras-chave do período foi o “desbunde” ou “desbum”. Alguém desbundava justamente quando mandava às favas – sob aparência frequente de irresponsabilidade – os compromissos com a direita e a esquerda militarizadas da época, para mergulhar numa liberação individual, baseada na solidariedade não-partidária e muitas vezes associada ao consumo de drogas ou à homossexualidade… (TREVISAN, 2000, p. 284).

Para Rafael de Souza (2013), além da oposição ao regime militar, o desbunde feito pelo movimento homossexual brasileiro, influenciado pelo discurso da “Liberação Sexual”[4], buscava também inserir no debate público a situação de “condenação moral e cultural de minorias e identidades coletivas estigmatizadas” (SOUZA, 2013, p. 46), além de produzir novos sentidos para a experiência de ser homossexual. Dessa forma, a Coligay pode ser considerada como uma experiência do desbunde levada para o futebol e, mais especificamente, para as práticas torcedoras.

A torcida chamava atenção pelas suas indumentárias – túnicas longas com as cores do tricolor gaúcho – e por contar com uma banda própria, a “charanga”, que impulsionava os cantos em apoio ao Grêmio, puxados pela torcida ao longo de toda a partida. Dessa forma, a Coligay destacou-se por apresentar uma prática de torcer, conforme as palavras do próprio Volmar, “mais animada”, que buscava se distinguir das então torcidas “oficiais” já estabelecidas.

A turma chegou ao estádio com seis das dezenas de seus integrantes vestindo longas túnicas listradas, as caftãs, perpassadas por filetes azuis pretos e brancos. Cada qual trazia em sua caftã, bem grande, uma das letras da palavra G-R-E-M-I-O, formatadas em ordem para se perfilarem no nome do clube que era a motivação dos rapazes sob a mirada curiosa dos outros torcedores, a maioria perplexa, alguns chocados e boa parte achando tudo aquilo muito divertido (GERCHMANN, 2014, p. 19).

Após a sua constituição, a torcida passou a contar com apoio material e de recursos do movimento gay de Porto Alegre e de pessoas simpatizantes que também passaram a se juntar às fileiras da Coligay, acompanhando o Grêmio onde ele estivesse. O jornal gaúcho Zero Hora, em outubro de 1977, dedicou uma reportagem de página inteira à Coligay. Entrevistado na ocasião, Volmar explicou como se dava a mobilização e o apoio financeiro que possibilitou o crescimento da torcida:

O grupo tem muita estabilidade: “Somos sustentados pelo Movimento gay de Porto Alegre […] e organizamos jantares beneficentes, temos um livro de ouro e assim conseguimos o dinheiro necessário”. O patrimônio da Coligay está cada vez maior: elas têm uma Kombi, já investiram muito dinheiro na charanga e nas túnicas que servem de uniforme. “Mas agora a camionete (sic) ficou muito pequena para nós. Vamos de ônibus alugado para o interior. Mas talvez a gente compre um microônibus (sic) para o grupo” (GERCHMANN, 2014, p. 97).

Mesmo apresentando uma prática de torcer considerada mais “animada”, a torcida se caracterizava por uma “vibração ordeira” (GERCHMANN, 2014, p. 120). A exaltação do comportamento “irrepreensível” da Coligay, presente na narrativa do livro de Gerchmann, sugere que esse foi um dos fatores que contribuiu para a aceitação da torcida. Tal fato é ratificado na reportagem feita pela revista Placar. Um dos convidados a opinar sobre a Coligay foi Teotásio Pielewski, apresentado como chefe do setor de meretrício e vadiagem da Delegacia de Costumes. Ao mesmo tempo em que destacava o comportamento não violento dos integrantes e ressaltava que nada havia de ilegal na presença de uma torcida gay nos estádios, a sua fala indicava também que a nova torcida vivia sob o controle e a vigilância policial, comum às pessoas que são colocadas sob suspeita pela norma hegemônica: “Estamos de olho nos rapazes e até agora não notamos nenhuma atitude inconveniente. Se algum provocar os outros torcedores, será retirado. Só isso. Nem a faixa que os identifica como homossexuais é ilegal” (Placar, 27/05/1977).

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Torcedores da Coligay. Foto: Acervo Placar/Reprodução.

Ainda assim, é inegável que a ocupação das arquibancadas de estádios brasileiros por parte da Coligay pode ser considerada um marco no sentido que rompeu com um espaço de sociabilidade tido como exclusivo do homem cisgênero e heterossexual. Mesmo não se considerando “um movimento de vanguarda gay” (GERCHMANN, 2014, p. 97), Volmar Santos tinha ciência de que a Coligay, com o seu entusiasmo e devoção ao Grêmio, estava rompendo preconceitos. Além de mostrar que gays poderiam gostar e fazer parte do contexto futebolístico, havia também a consciência de que estava em jogo a conquista de mais um espaço de visibilidade pública para corpos e subjetividades consideradas dissonantes e abjetas: “Pela primeira vez num Estado machista como o nosso, os homossexuais se manifestam em público. Não é pouca coisa, não? Às vezes, chego a ficar assustado. Mas, pelo que se viu, Porto Alegre está madura para nos aceitar”[5].

A Coligay encerrou as suas atividades em 1983. Para além de toda a emergência de um cenário político e cultural que favorecia a atitude desbundada, a aceitação da Coligay, naquele momento histórico, pode ser entendida a partir do relato extraído da reportagem citada, do jornal “Zero Hora”. Para o sociólogo convidado a opinar, dado o inusitado e o ineditismo da iniciativa, houve uma “não racionalização da aceitação à Coligay” e, combinada a ela, o fato da torcida ter ganhado o status de “pé-quente”, em razão do seu surgimento em um período vitorioso da história do clube – diferentemente, por exemplo, da Fla-Gay cuja tentativa de existência, em 1979, ficou marcada por uma derrota sofrida pelo Flamengo[6]:

O que aconteceu – segundo o sociólogo André Foster, analisando o grupo – é que as pessoas não racionalizaram a sua aceitação à Coligay. Simplesmente eles descobriram que aquele grupo era mais um interessado em que o Grêmio fosse campeão. Descobriram que eles estavam ali para incentivar o time, como todos os outros. Além disto, eram simpáticos e então foram aceitos. Não como uma classe, e sim como um grupo de apoio ao Grêmio. A sorte é que o clube venceu e eles conservam uma imagem simpática. Se o Grêmio perdesse, eles seriam linchados (Zero Hora, 02/10/1977, p.50).

A Coligay e de modo mais abrangente a primeira onda do movimento homossexual brasileiro – que, coincidentemente, também se encerrou em 1983 –, tiveram grande importância e deixaram enorme legado para a comunidade LGBT brasileira:

É inegável a eficácia dos grupos homossexuais em vários sentidos. Talvez a principal tenha sido a construção de sociabilidades unindo (e também promovendo) um novo tipo de homossexual que não é dominado por sentimentos de culpa e não se considera doente ou anormal. Mesmo depois de cessadas as atividades declaradamente ‘militantes’, essas redes têm sobrevivido e sido, em muitos casos, cruciais na história de vida dos seus participantes, influindo na sua escolha de moradia, de emprego, de atividade de lazer e de opção política (MACRAE, 1985, p. 465).

A Coligay hoje é reconhecida como parte da história oficial do clube, tendo sido recentemente incluída no atual Museu do Grêmio, aberto ao público em dezembro de 2015. Na exposição sobre os mais de 100 anos de história do clube, há um painel dedicado a Coligay, que destaca a coragem da torcida, que “vestindo figurino extravagante e ousado” e carregando as cores do Tricolor Gaúcho, “encarou a ditadura e tomou para si o desafio de reerguer o moral do clube”[7].


Bibliografia:

FACCHINI, Regina. “Sopa de Letrinhas”? – Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90: um estudo a partir da cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Departamento de Antropologia do IFCH, UNICAMP, Campinas, SP, 2002.

GERCHMANN, L. (2014). Coligay: Tricolor e de todas as cores. Porto Alegre: Libretos.

FRY, Peter; MACRAE, Edward. (1985). O que é homossexualidade. São Paulo: Brasiliense.

MACRAE, Edward. (1990) A construção da igualdade: identidade sexual e política no Brasil da abertura. Campinas/São Paulo: UNICAMP, 1990.

PINTO, Maurício Rodrigues. Pelo direito de torcer: das torcidas gays aos movimentos de torcedores contrários ao machismo e à homofobia no futebol. Dissertação (Mestrado em Mudança Social e Participação Política). Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

SOUZA, Rafael de. “Saindo do Gueto”: o movimento homossexual no Brasil da abertura, 1978–1982. (2013). Dissertação (Mestrado em Sociologia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2000.

 

Periódicos consultados:

“Para o que der e vier”. Revista Placar, n° 370, 27/05/1977

“Gente”. Revista Veja, n° 456, p. 70, 01/06/1977.

“Um gay power a brasileira”.  Revista Veja, n° 468, p.66, 24/08/1977.

“O grito (alegre) da Coligay ajudou o Grêmio a ser campeão”. Zero Hora, p.50, 02/10/1977.

“Márcio: Foi praga da FlaGay”. (15/10/1979). Jornal dos Sports, n°13518, p.1.

[1] Inspirado no conjunto norte-americano The Coquettes, o Dzi Croquettes foi um grupo artístico e performático que surge no Rio de Janeiro, em 1972. O grupo marcou a sua estreia com o espetáculo “Gente Computada Igual a Você”. A trajetória do grupo foi recentemente reconstituída no documentário “Dzi Croquettes” (2009), dirigido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez. Ver mais sobre o Dzi Croquettes, em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo399377/dzi-croquettes. Acesso em: 16/05/2018

[2] Após um período de autoexílio nos Estados Unidos, de 1973 a 1976, João Silvério Trevisan, escritor e jornalista, retorna ao Brasil e começa a se envolver e participar de ativismos homossexuais, sendo um dos fundadores daquele que é considerado o primeiro movimento político organizado da comunidade LGBT brasileira, o grupo Somos, em 1978. Também participou da criação e do Conselho Editorial do jornal “Lampião da Esquina” (1978 e 1981), periódico da imprensa alternativa, que reuniu intelectuais, artistas e militantes ligados ao movimento homossexual brasileiro e que teve “grande importância, na medida em que abordava sistematicamente, de forma positiva e não pejorativa, a questão homossexual nos seus aspectos políticos, existenciais e culturais” (FRY; MCRAE, 1985, p. 21). Sobre a biografia de João Silvério Trevisan, ver: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa104431/joao-silverio-trevisan . Acesso em 16/05/2018.

[3] Segundo Facchinni (2002, p. 80), “na primeira onda do movimento [homossexual brasileiro], o Somos [Grupo de Afirmação Homossexual] e o Lampião [da Esquina] questionavam o uso da palavra ‘gay’, preferindo utilizar ‘bicha’ ou ‘guei’, o faziam com a justificativa de que ‘gay’ era um termo ligado ao movimento norte-americano”. Nesse caso, o guei representava uma forma abrasileirada da identidade homossexual.

[4] De acordo com Souza (2013, p. 91), “o enquadramento interpretativo ‘Libertação Sexual’ foi fundamental para interpretar a conjuntura política específica da liberalização do regime militar e conectá-la à experiência de estigmatização sofrida pela comunidade homossexual, já que ambos os termos incluíam em si uma mesma ideia: a de que a superação da subordinação política e social só seria possível pela promoção da liberdade nos mais diversos âmbitos”.

[5] Fala de Volmar Santos para a reportagem “Para o que der e vier”. Revista Placar, n° 370, 27/05/1977.

[6] As vésperas do clássico Flamengo e Fluminense, válido pelo quadrangular final do Campeonato Carioca de 1979, passou a ser veiculada a estreia de uma nova torcida do Flamengo, a Fla-Gay. Em meio a forte pressão contrária à Fla-Gay, puxada principalmente pelo então presidente do clube, Márcio Braga, a torcida acabou tendo o seu acesso impedido ao Maracanã no jogo que foi vencido pelo Fluminense por 3 x 0. No dia seguinte, o Jornal dos Sports, principal periódico esportivo da época, estampou na sua capa: “Márcio: Foi praga da FlaGay”, dando destaque a uma das falas de Braga, que sugere que a derrota do rubro-negro havia sido uma “praga” da torcida que havia sido rejeitada de manifestar a sua  torcida pelo Flamengo. (PINTO, 2017, p.64).

[7] Informação gentilmente compartilhada pela pesquisadora Luiza Aguiar dos Anjos (UFRGS), que desenvolve pesquisa de doutorado sobre a história da Coligay.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Maurício Rodrigues Pinto

Bacharel em História, pela Universidade de São Paulo (USP, com especialização em Sociopsicologia, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e mestre pelo programa interdisciplinar Mudança Social e Participação Política, da USP. Corinthiano, no seu mestrado pesquisou masculinidades e a atuação de movimentos de torcedorxs contrários à homofobia e ao machismo no futebol brasileiro. Integrou o coletivo HLGBT (Histórias de Vida LGBT) e participou do projeto que resultou no livro “Histórias de Todas as Cores: Memórias Ilustradas LGBT”, projeto selecionado pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo (ProaC), no edital de Promoção das Manifestações Culturais com Temática LGBT.

Como citar

PINTO, Maurício Rodrigues. Coligay: o desbunde guei que ganhou os estádios brasileiros. Ludopédio, São Paulo, v. 107, n. 25, 2018.
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