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A guerra do Santos: 50 anos de uma viagem histórica – A lenda do soldado Nascimento (parte IV)

José Paulo Florenzano 24 de janeiro de 2019

Embora não seja uma tarefa simples determinar o momento exato do aparecimento da narrativa acerca da guerra na África interrompida pela passagem do Santos, temos duas efemérides que nos servem de baliza para localizá-la no tempo. Referimo-nos ao milésimo gol de Pelé e à sua primeira despedida do futebol. Em novembro de 1969, os mil gols suscitaram uma profusão de reportagens e artigos, matérias especiais sobre a carreira do atleta. A Folha de S. Paulo, por exemplo, dedicou-lhe um caderno extra no qual destacava “seus feitos e façanhas”. Nesta seção em que se poderia a princípio esperar o registro da maior de todas as proezas, não constava nada a respeito de um conflito armado suspenso pela presença do célebre jogador[1]. Pelé ainda discorria na entrevista concedida ao jornal sobre as possibilidades de “paz” em um mundo convulsionado por uma série de guerras, com destaque para a do Vietnã, mas nada sobre a da Nigéria.

Em sua concorrida coluna publicada em O Globo, Nelson Rodrigues destacava a cobertura jornalística concedida ao milésimo gol, “muito maior que a da Apolo 12”[2]. Um turista desinformado que estivesse de passagem pelo Brasil, ironizava o dramaturgo, talvez acreditasse que Pelé havia pisado a Lua, mas, podemos acrescentar, nada saberia a respeito de uma guerra paralisada por ele em algum lugar da África, pois, a propósito desta questão, os jornais não registravam nenhuma referência. De fato, em sua não menos prestigiada coluna publicada no Jornal do Brasil, Armando Nogueira relembrava os desfiles em carro aberto de Pelé em vários países da África[3]. Decerto, uma passagem apropriada para evocar o cessar fogo pactuado por exércitos inimigos para a exibição do Santos. Mas, novamente, não se encontrava nenhuma alusão ao extraordinário episódio.

A Tribuna, de Santos, o único órgão de imprensa a enviar um jornalista para cobrir a turnê africana de 1969, também silenciava a respeito do assunto. A lacuna torna-se tão mais eloquente à medida que o periódico praiano trazia dados inéditos sobre a partida da equipe do Santos na cidade de Benin, no interior da Nigéria, onde, por vezes, a narrativa histórico-lendária costuma localizar o episódio. Antigo reino Ioruba, ligado à cidade sagrada de Ifé, ali residia o Rei Oba, Akenzua II. Informado sobre a presença do Rei Pelé, ele manifestara o desejo de recebê-lo em casa, recado transmitido através do governador militar do Estado do Centro Oeste. Sentado na cadeira de “rústico acabamento” que lhe servia de trono, The Oba of Benin foi premiado com a visita do elenco santista, como nos relata o repórter de A Tribuna:

Sentados, um a um foram chamados para a apresentação ao rei, que, com semblante sério, os examinava sem nada dizer. Até que chegou a vez de Pelé. Akenzua deixou seu rosto – que os 70 anos de vida encheram de rugas – iluminar-se por um sorriso: “You are Pelé!”[4]

O antigo reino de Benin, que os ingleses “saquearam” no último quartel do século dezoito sob o pretexto de combaterem a “Cidade de Sangue”, isto é, um lugar “que lhes revoltava a consciência civilizada” em virtude de costumes considerados bárbaros, como, em especial, o do “sacrifício humano”, resplandecia de certa maneira na figura do rei Akenzua II, agora, porém, despojada de poder político[5]. Já o “deus negro do futebol”, epíteto que A Tribuna empregava amiúde para se referir ao autor dos mil gols, parecia dotado de poderes sobrenaturais. Pelé relatava em primeira mão ao jornal praiano “coisas” que nunca havia revelado antes: “crianças que não falavam, falaram quando me viram; pessoas que não andavam, andaram quando fui falar com elas”[6]. E, dentro desta ordem de ideias, pouco depois, acrescentar-se-ia o milagre que coroava a série fantástica evocada pelo próprio atleta: pessoas que lutavam em uma guerra civil interromperam-na para vê-lo jogar.

Com efeito, em outubro de 1974, a despedida de Pelé dos gramados de futebol demandava a edição de novos cadernos especiais. A Folha de S. Paulo repassava-lhe a carreira, sem deixar nada escapar. Na seção intitulada “As malucas aventuras do herói negro no mundo do futebol”, a narrativa mítica finalmente emergia à superfície do texto jornalístico, não sob a forma de uma revelação bombástica, de um furo de reportagem, mas, ao contrário, como se fosse uma notícia há muita conhecida, perfeitamente crível, acima de qualquer dúvida ou questionamento:

E Pelé já parou uma guerra, também. Em outra excursão que o Santos fez à África, havia um jogo marcado em Biafra. Naquela época, Biafra se levantava contra o poder nigeriano, tentando sua independência. Houve uma trégua de dois dias nesta guerra para que Pelé pudesse mostrar o seu futebol. Assim que o Santos levantou voo, a guerra recomeçou.[7]

A narrativa era evocada com o propósito deliberado de exaltar a personagem do jogador; projetando-a em uma escala mítica; dotando-a de poderes extraordinários, como, precisamente, o de suspender as hostilidades bélicas em um país africano. Ao que tudo indica, ela havia entrado em circulação na esteira da conquista do tricampeonato, na Copa de 1970, momento em que a figura de Pelé atingia o grau mais elevado de idolatria. Em setembro, portanto, logo depois do épico nos gramados mexicanos, o Santos foi realizar uma breve excursão pelos Estados Unidos, amistosos em Chicago, Washington, Los Angeles e Nova York. Um mês depois, Armando Nogueira publicava em sua coluna no Jornal do Brasil um trecho da coluna de Robert Markus publicada no Chicago Tribune. Eis a matéria do jornalista norte-americano, transcrita pelo jornalista brasileiro:

Pelé e o Santos, há dois anos, foram à África jogar várias partidas, duas delas na Nigéria – uma na Nigéria, outra, em Biafra. Estava no auge a guerra de Biafra. Os dois exércitos, então, combinaram três dias de trégua especialmente para que Pelé pudesse jogar nos dois campos.[8]

Trata-se, ao que tudo indica, da primeira matéria publicada na imprensa brasileira sobre a guerra na África interrompida pela passagem do time de Pelé. A narrativa surge de forma surpreendente nos Estados Unidos, formulada por um cronista do Chicago Tribune, o qual, por sua vez, informava tê-la recebido de um “intérprete da delegação do Santos”. Se nós a compararmos com a matéria publicada quatro anos mais tarde na Folha de S. Paulo, ficará evidente a linha de continuidade entre uma narrativa e outra, bem como o modo pelo qual ela foi se transformando ao longo do tempo, despojando-se, por assim dizer, dos aspectos mais fantasiosos presentes no relato feito pelo jornalista norte-americano e transcrito pelo jornalista brasileiro:

Depois do jogo na Nigéria, Pelé foi levado até a fronteira, um rio, por um capitão nigeriano que, ao saudar o oficial biafrense, passou-lhe a guarda do rei com a seguinte recomendação: “Aí está Pelé, ele merece todo cuidado”.[9]

Ora, em 1970, a dimensão trágica da guerra civil, marcada por atrocidades, massacres e violações, continuava viva na consciência dos contemporâneos. De fato, como esquecer a realidade perturbadora da criança biafrense – como na imagem surreal evocada pela canção do poeta – “sorridente, feia e morta”, estendendo a mão em busca de uma ajuda humanitária que lhe era recusada justamente porque a fome se convertera, então, na mais poderosa das armas de guerra?[10] Armando Nogueira certamente sabia que o conflito na Nigéria não se resumira a uma troca de tiros na fronteira, nada além de uma escaramuça entre exércitos rivais. Não por outro motivo, após reproduzir o relato do jornalista norte-americano, ele alertava o leitor mais desavisado:

Todo mundo sabe que o prestígio de Pelé no mundo inteiro, só não abre as portas do céu, mas, essa de suspender a guerra de Biafra, há dois anos, francamente, essa está me cheirando a milongo, do intérprete ou do mister.[11]

Eis o dado extraordinário a propósito da célebre narrativa envolvendo o time do Santos: ela entrava em circulação acompanhada da incredulidade do jornalista que a divulgara pela primeira vez! Todavia, a partir daí, ao invés de cair no esquecimento, ela passaria a ser lembrada e reiterada por atletas, torcedores e jornalistas, cristalizando-se pouco a pouco como verdade histórica. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, tornar-se-ia mais imprecisa, abrigando versões aparentemente contraditórias entre si. Com efeito, no ponto de partida, todos mencionavam sem hesitação a Nigéria como o lugar onde ocorrera a façanha diplomático-esportiva, mas, com o passar dos anos, a sua localização foi se afigurando cada vez mais confusa e incerta. Vejamos um exemplo emblemático.

Em 2010, quando comemorava os setenta anos, Pelé foi homenageado pelo exército brasileiro em uma cerimônia na fortaleza de São João, no Rio de Janeiro. Como se sabe, aos dezoito anos, já campeão do mundo, ele não apenas tinha servido a instituição militar na qualidade de soldado raso, em uma unidade na Praia Grande, litoral de São Paulo, como ainda por cima conquistara um título pela Seleção do Exército. A efeméride do soldado Nascimento foi marcada por homenagens e honrarias, dentre as quais a inauguração de um busto em vida do jogador, que, dessa maneira, ingressava na galeria dos imortais do Exército. O Esporte Espetacular, da Rede Globo, relembrava aos telespectadores a passagem do atleta soldado, destacando as proezas do “soldado da paz” que, por um breve momento, deteve dois exércitos em confronto, os quais acordaram um armistício para não perderem a oportunidade única de vê-lo jogar. A certa altura, a reportagem indagava a Pelé o fato que mais o havia marcado no célebre episódio. Acompanhemos com atenção a resposta do entrevistado:

Bom, é uma lembrança maravilhosa, quando você entende que pôde, pelo menos por alguns dias, parar uma guerra. Agora é muito triste [saber que quando] nós viajamos a guerra continuou. Isso é muito triste. Mas eu poderia dizer que foi realmente uma das coisas mais importantes que aconteceu nessa nossa carreira, em termos de mensagem, em termos de paz, por ter dito ao mundo que nós conseguimos parar uma guerra com o esporte, com o futebol.[12]

A guerra à qual o Rei Pelé, o repórter da Rede Globo e os demais atletas do Santos se referiam na reportagem, no entanto, não era a da Nigéria, mas, sim, a “guerra do Congo Belga”! Quando o alvinegro foi realizar um amistoso no coração da África, em 1969, dizia a matéria levada ao ar pelo Esporte Espetacular, “a cidade de Brazzaville, local da partida, estava em guerra contra a cidade de Kinshasa”, respectivamente capitais da República do Congo (antiga colônia francesa) e da República Democrática do Congo (antiga colônia belga), separadas pelo rio homônimo que dá nome aos dois países. A locução sobre a suposta “guerra” entre os dois estados era acompanhada das imagens do conflito, exibidas com o propósito de corroborar a narrativa jornalística.

Ou seja, à primeira questão enunciada a respeito da narrativa, se o Santos interrompera ou não a guerra, somava-se agora uma segunda questão, qual guerra: a da Nigéria ou a do Congo? Como explicar a confusão explicitada pelo Esporte Espetacular, reiterada pelo próprio Pelé, bem como pelos demais atletas do alvinegro praiano que prestaram depoimento ao programa? As respostas a estas indagações nos ajudam a projetar uma nova luz sobre o extraordinário episódio ocorrido em algum lugar da África, indefinição da qual a rigor nem a própria academia consegue escapar[13]. Olhando em retrospecto, a construção da narrativa emerge como o resultado da fusão de dois momentos distintos da excursão africana empreendida em 1969 pelo time de Vila Belmiro. Para compreendê-la, devemos recuar até o início da turnê, em janeiro, quando a comitiva santista se preparava para viajar de Brazzaville a Kinshasa através do rio Congo. Detenhamo-nos nesta passagem. Os dois países viviam, então, a suspensão das relações diplomáticas devido às orientações ideológicas antagônicas imprimidas pelos respectivos governos. Enquanto o regime ditatorial de Kinshasa se encontrava alinhada com o bloco capitalista desde 1965, o regime “revolucionário” de Brazzaville adotara a partir de 1969 o “socialismo científico”[14]. A fronteira fluvial, naquele momento, se achava fechada. Atentemos para o relato do enviado especial de A Tribuna, Gilberto Marques, a respeito da solução encontrada para contornar o impasse:

Quando a delegação santista chegou ao rio Congo não havia barcos para fazer a travessia, pois as relações entre Brazzaville e Kinshasa foram rompidas em outubro passado, provocando a suspensão do serviço de transporte de uma margem para outra. Por isso, as autoridades de Kinshasa tiveram de enviar um barco especial para apanhar os santistas do outro lado do rio.[15]

Compreenda-se: as hostilidades foram suspensas para que o time de Pelé pudesse transpor a fronteira entre os dois países que viviam a elevação das tensões diplomáticas, sem, contudo, recorrerem ao confronto armado. Noutras palavras: não havia uma “guerra do Congo” envolvendo as duas nações![16] Na sequência da excursão, porém, o time do Santos desembarcara em um país que efetivamente atravessava uma guerra civil, mas, conforme vimos, circunscrita à região oriental, com o raio de ação do exército separatista limitado em função do cerco que lhe impunha o governo central. A delegação do Santos, no fundo, manteve-se alheia aos acontecimentos dramáticos que se desenrolavam na Nigéria, a uma distância relativamente segura das áreas conflagradas, mesmo quando esteve na cidade de Benin. Esta se convertera efetivamente em palco da guerra civil, mas isto ocorrera, sobretudo, antes da passagem do time brasileiro pelo país, quando as forças separatistas, em uma ação surpreendente e ousada, invadiram o Estado do Centro Oeste.

 

As tropas separatistas tomaram de assalto a cidade de Benin na contraofensiva de agosto de 1967, cedendo-lhe, porém, o controle logo no mês seguinte. Elas voltaram a retomar as iniciativas de forma mais efetiva apenas nos meses de abril e maio de 1969[17]. A cidade de Owerri foi reconquistada e transformada na nova capital provisória da República de Biafra, compensando, porém, a queda de Umuahia onde ela se achava localizada[18].

A incursão do Santos pela guerra civil, convém ressaltar, não deve ser considerada como um passeio tranquilo, a salvo de riscos e imprevistos. No início do conflito, até mesmo Lagos fora atingida por ataques aéreos. A cidade de Benin, por sua vez, embora avaliada pelas autoridades federais como um lugar seguro para a exibição da equipe brasileira, fosse por se achar distante da área onde se desenrolava o confronto armado, fosse por abrigar a sede da Segunda Divisão do Exército da Nigéria, via-se vez por outra fustigada por ataques esporádicos realizados por uma força aérea precária[19]. Levar em conta estas circunstâncias, porém, não significa corroborar a hipótese do cessar-fogo, mas, apenas, salientar o risco que tanto o empresário encarregado de agendar os jogos do Santos na África, quanto a própria direção clube, decidiram correr na Nigéria.

No que concerne especificamente à região do Centro Oeste, no entanto, quando os ataques recomeçaram com mais intensidade através de bombardeios às instalações militares, torres de energia elétrica, refinarias de petróleo e vários campos de pouso, inclusive, no final de maio, o da capital, a comitiva santista já se encontrava a léguas de distância da cidade de Benin[20].

 

À medida, porém, que as viagens africanas do alvinegro praiano começaram a ficar para trás, distanciando-se no tempo, os episódios da hostilidade diplomática entre Brazzaville e Kinshasa e o da conflagração armada entre Nigéria e Biafra acabaram por se confundir e entrelaçar em uma mesma narrativa acerca do conflito interrompido em algum lugar da África pela presença do rei do futebol. As recordações do jogador Lima exprimem a fusão dos dois cenários: “Nós estávamos na África, e o lugar era assim, como Santos e Guarujá, só que aqui no meio ficava o mar, lá ficava um rio. E eles estavam em guerra”[21]. Enquanto o coringa da equipe alvinegra situava o cenário da célebre história no Congo, o arqueiro Gilmar a localizava na Nigéria, lembrando-se dos tiros de arma de fogo disparados no instante em que a aeronave do Santos iniciara a decolagem no aeroporto da capital do Estado do Meio Oeste, “sinal de que a guerra tinha recomeçado”[22]. De fato, os disparos ocorreram, mas não sob a forma de tiroteio, e sim de bombardeiro, não imediatamente após o voo de despedida da delegação, mas três meses após a realização da partida, como nos mostra a cronologia dos acontecimentos acima delineada!

Como nos mostra a análise clássica do sociólogo francês, Maurice Halbwachs, a memória implica a reconstrução dos fatos do passado a partir da inserção dos indivíduos nas condições do presente, do vínculo que eles mantêm com o grupo social no qual viveram os acontecimentos relembrados, da tradição com a qual se sentem comprometidos e identificados, reiterando, dessa maneira, a narrativa consagrada[23]. A imprecisão nas reminiscências dos atletas santistas, ora indicando o Congo, ora mencionando a Nigéria, como o lugar onde a guerra teria sido suspensa pela presença da equipe, não se afigura, portanto, casual, mas, sim, emblemática do trabalho de reconstrução da memória, refletida, no caso em questão, na síntese dos dois momentos distintos da excursão empreendida nos idos de 1969.

E teve um jogo na África, os dois lados estavam guerreando, como ia ter jogo do Santos, pararam a guerra, viram Pelé, e depois continuaram guerreando.[24]

Na parede da memória de Joel Camargo, zagueiro do time de Vila Belmiro, restara apenas a vaga recordação de um jogo realizado em algum lugar na África.

 

 

[1] Cf. “O insaciável marcador de gols”, caderno extra da Folha de S. Paulo, 20 de novembro de 1969.

[2] Cf. Coluna: “À sombra das chuteiras imortais”, Nelson Rodrigues, O Globo, 22 de novembro de 1969.

[3] Cf. Coluna: “Na grande área”, Armando Nogueira, Jornal do Brasil, 22 de novembro de 1969.

[4] Cf. “Na África ele é sempre a visita de um deus”, caderno especial de A Tribuna, 20 de novembro de 1969.

[5] Achebe, Chinua (2012) A educação de uma criança sob o Protetorado Britânico: ensaios. São Paulo, Companhia das Letras, p.67.

[6] Cf. “Cresceu muito aquele menino que sonhava em ser como o pai Dondinho e jogava bola de meia no campo de terra; mas ainda não entendeu bem por que logo ele foi predestinado a ser Pelé”, A Tribuna, 20 de novembro de 1969.

[7] Cf. “Pelé (1956-1974) ”, caderno especial da Folha de S. Paulo, produzido por Paulo Mattiussi, 29 de setembro de 1974.

[8] Cf. Coluna: “Na grande área”, Armando Nogueira, Jornal do Brasil, 22 de outubro de 1970.

[9] Cf. Coluna: “Na grande área”, Armando Nogueira, Jornal do Brasil, 22 de outubro de 1970.

[10] “E no joelho uma criança sorridente feia e morta / Estende a mão”, letra da música, Tropicália, Caetano Veloso, do álbum “Caetano Veloso”, 1968.

[11] Cf. Coluna: “Na grande área”, Armando Nogueira, Jornal do Brasil, 22 de outubro de 1970.

[12] Cf. “Soldado Nascimento e ´comandante da Paz`: faces de Pelé, ídolo que parou guerras”, programa exibido pelo Esporte Espetacular, da Rede Globo de Televisão, em 2010. A matéria exibe também o trecho do discurso proferido pelo comandante do Exército, na fortaleza de São João, sobre Pelé. Eis o que dizia o comandante do Exército: “Com seu enorme carisma e conceito internacional conseguiu, inclusive, interromper temporariamente em 1969 a guerra civil que ocorria no então Congo Belga”. Então, como se sabe, o “Congo” já não era mais da Bélgica, e, sim, uma nação independente.

[13] “En 1969, durante la visita del equipo Santos a lo que antes era el Congo Belga, los bandos enemigos de Kinshasa y de Brazzaville acordaran una tregua mientras Pelé permaneciera en la zona; aunque después continuaran con el conflicto”. Gameros, Manuel (2010) La otra diplomacia: el fútbol y la política. In: Fútbol espectáculo, cultura y sociedad. Samuel Martínez (Coordinador). México, Afinita Editorial Universidad Iberoamericana, p. 236.

[14] M`Bokolo, Elikia (2011) África negra: história e civilizações. Tomo II. Do século XIX aos nossos dias. Salvador, Editoria da Universidade Federal da Bahia; São Paulo, Casa das Áfricas, p.640.

[15] Cf. “Viagem com problemas”, A Tribuna, 21 de janeiro de 1969. Cf. Nascimento, Guilherme (2012) Almanaque do Santos F. C., São Paulo, Magma, p.154. O pesquisador descreve o “conflito diplomático” entre os dois países e considera a partida Santos 2 x 3 Congo, realizada em Kinshasa, como “um dos jogos em que o SFC parou uma guerra”. O outro jogo seria o da cidade de Benin. De acordo com esta interpretação, portanto, a equipe de Pelé teria interrompido duas guerras.

[16] Agradeço ao antropólogo da Universidade de São Paulo, professor Kabengele Munanga, sob cuja supervisão o projeto do pós-doutorado foi elaborado, o esclarecimento deste ponto.

[17] A captura de Owerri ocorreu em abril e o bombardeio de refinarias em Port Harcourt e do aeroporto da cidade de Benin em maio. St. Jorre, John de (1972) The Nigerian Civil War. London, Hodder and Stoughton, op. cit., p. 271.

[18] A capital da República de Biafra foi se deslocando durante a guerra civil, à medida que as forças federais avançavam sobre o território separatista. Inicialmente localizada na capital da antiga Região Oriental, em seguida ela foi instalada. A invasão do Estado do Centro Oeste, em agosto de 1967, e a retomada de Owerri, em abril de 1969, constituem os dois maiores êxitos militares de Biafra no transcorrer de toda a guerra civil. Cf. John de St. Jorre, op. cit., p.329.

[19] Cf. “Stop bombing Biafran civilians”, New York Times, 23 de fevereiro de 1969. Neste editorial o jornal norte-americano menciona ataques aéreos de Biafra sobre Benin e Calabar no mês de janeiro. O noticiário sobre a guerra civil, no entanto, não traz qualquer referência sobre os ataques. Por certo, eles não se constituíam em uma ofensiva militar contra as duas cidades, mas, como frisado, tão somente em ações esporádicas realizadas, ademais, com bombas de fabricação rudimentar.

[20] Cf. “Biafran planes hit nigerian field, causing panic”, New York Times, 25 de maio de 1969. Sobre os ataques aéreos de Biafra ao aeroporto da cidade de Benin, segundo informações não oficiais, com seis mortos e oito feridos.

[21] Entrevista concedida pelo ex-atleta Lima em 13 de julho de 2012 no âmbito do projeto: “História Oral: Futebol, Memória e Patrimônio”, da Fundação Getúlio Vargas/CPDOC e Museu do Futebol/Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB). Agradeço ao historiador Bernardo Buarque de Hollanda o convite para compor a equipe de entrevistadores.

[22] Guilherme Nascimento, op. cit., p. 154, afirma corretamente que “a guerra de Biafra chegou até a cidade de Benin”, mas, sem levar em consideração a cronologia do conflito, reitera a interpretação segundo a qual, para a apresentação do Santos, “foi decretado feriado na parte da tarde e uma trégua na guerra civil”. Esta linha de interpretação, em linhas gerais, foi retomada por Cunha, Odir; Fernandes, Marcelo Lúcio (2018) Santos F. C. O maior espetáculo da Terra: as viagens inesquecíveis do maior time de todos os tempos. São Paulo, Onze Cultural / Memorabília Esportes, p.265, mas sem a indicação da data da invasão.

[23] Halbwachs, Maurice [1950] (1990) A memória coletiva. São Paulo, Vértice/Revista dos Tribunais.

[24] Entrevista concedida pelo ex-atleta Joel Camargo em 29 de junho de 2012 no âmbito do projeto: “História Oral: Futebol, Memória e Patrimônio”, da Fundação Getúlio Vargas/CPDOC e Museu do Futebol/Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB). Agradeço ao historiador Bernardo Buarque de Hollanda o convite para compor a equipe de entrevistadores.

 

Amanhã, estará disponível a parte final desta série de artigos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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José Paulo Florenzano

Possui graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994), mestrado em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da PUC-SP (1997), doutorado em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da PUC-SP (2003), e pós-doutorado em Antropologia pelo Programa de Pós-Doutorado do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (2012). Atualmente é coordenador do curso de Ciências Sociais e professor do departamento de antropologia da PUC-SP, membro do Conselho Consultivo, do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), do Museu do Futebol, em São Paulo, membro do Conselho Editorial das Edições Ludens, do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre o Futebol e Modalidades Lúdicas, da Universidade de São Paulo, e participa do Grupo de Estudos de Práticas Culturais Contemporâneas (GEPRACC), do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP. Tem experiência na área de Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia Urbana, Sociologia do Esporte e História Política do Futebol, campo interdisciplinar no qual analisa a trajetória dos jogadores rebeldes, o desenvolvimento das práticas de liberdade, a significação cultural dos times da diáspora.

Como citar

FLORENZANO, José Paulo. A guerra do Santos: 50 anos de uma viagem histórica – A lenda do soldado Nascimento (parte IV). Ludopédio, São Paulo, v. 115, n. 20, 2019.
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